segunda-feira, dezembro 09, 2013

Relações

Este fim-de-semana, para além de uma ida à Conga nada mais fiz do que dormir. Hoje, quem sabe porque tenho a mente descansada acordei a pensar nisso. Relações. Faço um pequeno desvio para dizer que há 20 anos atrás pensava que ia trabalhar em investigação criminal (um dia) como profiler e hoje trabalho em tecnologias de informação para o desenvolvimento social. Quero dizer com isto que nunca sabemos onde vamos estar daqui a uns tempos e que aquilo que pensavamos não ser para nós, até pode ser e vice-versa.
 
Tendo crescido num lar com pais que se amavam e eram felizes, é natural que essa tenha sido a referência que interiorizei. Passar uma vida ao lado de uma pessoa, partilhar uma vida. O plano parecia-me belíssimo, mas não se pode dizer que fosse tendo muita sorte. O máximo que estive com alguém foram 7 anos. Depois dessa primeira relação sabia que era isto que queria e não fiz outra coisa senão continuar a procurar a tal "relação para a vida toda". Mais 4 anos ao lado de uma pessoa, dois erros de casting pelo meio, e mais 3 anos ao lado de outra. Com isto estava com 36 anos e tinha de começar de novo.
 
Na altura pensei «se queres ter algo que nunca tiveste, faz algo que nunca fizeste». Perante a possibilidade de estar com alguém que conheci no dia anterior, resolvi ser "moderno" e fazer o que toda a gente faz. Correu bem e entrei assim na minha actual relação que já passou os 3 anos. Esta história seria 100% estupenda se o meu namorado não vivesse a 400km de distância.
 
Sempre disse que não queria uma relação à distância. E entrei numa. Claro que, inicialmente, pensei que estava apenas a ter um caso, por isso não fazia mal. De caso, passou a coisa séria e como em tudo na vida chega uma altura em que queremos "o próximo passo" e o próximo passo para mim é partilhar um quaotidiano, mesmo que não seja na mesma casa. Essa perspectiva parece cada vez mais longínqua. Cada um tem o seu trabalho no seu país e uma grande dificuldade em transladar-se. Por causa do novo trabalho dele, os fins de semana passaram a ocorrer de 15 em 15 dias. As férias nem foram passadas juntos. E a minha relação é quase uma "não relação". Há alturas em que a comunicação é complicada, estamos tão cansados à noite que a conversa tem mais bocejos que outra coisa.

E agora? O próximo passo, parece cada vez mais inatingível. Um amigo meu, também numa relação à distância dizia que mais valia ver o namorado uma vez por mês, do que nunca. Ao fim de 2 anos e meio também começa a perceber que, se calhar, as coisas são um pouco mais complicadas. Não há relações 100/100, mas pelo menos gostaria de ter uns 70/100.

A minha sobrinha de 5 anos perguntou-me «ó tio, porque é que não tens uma pessoa crescida a viver contigo? Tu devias ter companhia em casa». Sem querer tocou-me num ponto crítico. São coisas para pensar tranquilamente. E não penso que seja uma crise dos 40. É uma questão de sabermos o que nos faz falta e o que são as nossas necessidades.

Já me disseram «e se depois não encontras uma pessoa de quem gostas tanto e que goste de ti da mesma maneira?» Na realidade, acho que estar sozinho não é exactamente mau. Penso sempre que pior é ter alguém de quem não posso usufruir. Às vezes é doloroso, frustrante, injusto. As relações, para mim, servem para estarmos melhor. Eu sou feliz sozinho. Assim, uma relação tem de ser a cereja no topo do bolo. E esta foi assim durante muito tempo, até que, desde as mudanças provocadas pelo trabalho começou a deixar-me mais frustrado que outra coisa.

A coisa boa, é que vivemos sempre esta relação como se ela pudesse acabar na semana a seguir. O que fez com que vivessemos o presente sempre intensamente, e que existam muitas (imensas) boas recordações. Sempre dissemos que se o nível começasse a cair o melhor era acabar enquanto estavamos em alta. Às vezes já criamos problemas por causa do cansaço, por não conseguirmos conjugar horários, por não haver comunicação e não vale a pena isto escalar. A realidade é que nunca fui tão feliz com ninguém. E a vida dá voltas. As que aconteceram não foram em nosso favor, mas nunca se sabe a próxima. Vamos ver.





 

7 comentários:

AM disse...

Finalmente 'O' post.

Corroboro a primeira ideia. Quem é idealista por natureza acaba por ter que enfrentar essa verdade da realidade: a vida dá voltas e o que pensávamos ser melhor para nós pode não o ser e vice-versa. Eu também me idealizei numa relação de 'casamento' - e foi um fiasco pessoal total, apercebi-me mesmo que tal coisa é contrária à minha felicidade (ainda assim desejo um parceiro fixo, mas em moldes menos convencionais de idealismo e sem quaisquer pressas).
Eu compreendo a frustração pela distância e também o chamamento para uma vida em comum, mas vou ser honesto na minha sugestão: acho que deviam experimentar acabar a relação, ou pelo menos, sentarem-se juntos e conversar sobre o fim. Não prolonguem esse estado de 'não-relação'. Já tive uma de 4 anos e fiquei vacinado. Silvestre não tenhas receio da perda ou de uma coisa de 'não voltar a encontrar uma pessoa que te faz tão feliz ou de quem gostes tanto'. Como o meu amigo mais querido (com quem estou envolvido agora) me diz 'quando se gosta, gosta'. Não se perderão. Estarão tão só a tomar uma opção pessoal. E se a atual não traz felicidade - sejamos simples e deixemo-nos de pensamentos e suposições (a minha amiga psicanalista de Londres escreveu esta semana no facebook que pensar pode ser uma verdadeira doença e começo a concordar - sobretudo para quem pensa muito ou idealiza muito) - é tempo de experimentar outra opção.
Gostei genuinamente do post.
um abraço

silvestre disse...

@alexandre: Na realidade estou sem medos nenhuns. Muito tranquilo a olhar para o assunto. Daí o post :)

Lobo disse...

Mas se perdes o amor da tua vida? Não haverá depois, lugar ao arrependimento? Ou será que existem vários amores, consoante o teu estádio de vida? Parece-me arriscado, ponderar acabar dessa forma... porque é um risco muito grande.

silvestre disse...

@namorado: Ninguém desiste sem lutar. Contudo a questão é mesmo essa, acabando com um sentimento de respeito nunca se perde esse amor. Se ao invés não se conseguir inverter o caminho de reprovações mútuas o amor acaba mesmo. Às vezes requer alterar o modo de relacionamento para o amor não acabar e até crescer, mesmo que de outra forma.

Lobo disse...

Parece-me, que nesses moldes, colocas a coisa muito quinhentista... muito Petrarca way, muito amor platónico... muito sofrimento também!

silvestre disse...

@namorado: Na realidade, a coisa está a ser vivida sem nenhum drama. Tudo muito lúcido. Ainda hoje tivemos uma conversa estupenda a este respeito.

Lobo disse...

Se assim é, fico contente por isso :) Também somos adultos resolvidos e isso é um factor importante na discussão das coisas ;)